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terça-feira, 20 de junho de 2023

É possível ser autista e ter transtorno de personalidade ao mesmo tempo?


     Primeiramente, eu preciso dizer que discordo que autismo seja um transtorno, já que esse termo direciona para algo doentio conosco. Na verdade, ver-nos como deficientes é mais adequado, no entanto, quem é deficiente é a sociedade que não está adaptada totalmente para nos receber e aceitar como somos na nossa neurodivergência. A sociedade quer que a gente se adapte.  Tudo bem nos adaptarmos até um dado limite, aliás o de cada um é distinto. Aí surgem as políticas públicas pra corrigir esse erro social enraizado, não só para incluir o autista, como igualmente, as demais pessoas excluídas do padrão socialmente aceito. 

      Depois, vamos fazer uma diferenciação de termos comumente confundidos. Temperamento, caráter e personalidade. Temperamento é a manifestação das características ou da tendência genética (inata). Aliás, se quiser ler o artigo que escrevi explicando cientificamente a real causa do autismo, clique aqui para entender melhor o que se trata.

    Caráter é o meio termo, onde há o modelamento do que é inato com o que é aprendido (meio ambiente) e Personalidade é quando o caráter está solidificado. Pelo que entendi, a psicologia considera a personalidade um padrão desenvolvido e equilibrado de ser no mundo, mas mutável. Assim, o autista tem uma forma de ser no mundo, mas sem apoio, ser quem ele é nesse mundo, é muito confuso, então autistas adquirem muitas máscaras. Porém, ele sempre será uma boa pessoa. O entendimento de quem o vê agindo fora do aceitável é que o "demoniza".

       Quem está errado, autistas ou quem não o compreendeu? Entende, que também há uma deficiência de comunicação imperceptível no momento do ato? Autistas vão ser criminalizados, inclusive quando adultos, a ponto de serem injustiçados ao extremo. É por isso que eles têm um senso de justiça grande, pois eles sofrem a penalidade social, mas não querem que os outros também passem por isso, justamente por ter um temperamento bom. Se eles se deixassem levar pela desesperança e cometessem injustiças, surtariam, pois estariam indo contra a essência deles. É isso que acontece com autistas sem a oportunidade de saberem quem eles são (diagnóstico). Ficam à mercê do mundo para sobreviver e provavelmente serão "engolidos" e desenvolverão comorbidades, e não transtornos de personalidade, como forma de se equilibrarem nessa loucura social.  

       Sobre o tema deste artigo, eu respondo a pergunta com um "depende"! Seria impossível se houver apenas um locus gênico com um par de genes responsável pela característica da personalidade, pois ser autista já é um tipo de tendência de personalidade e não um transtorno como foi nomeado inadequadamente. Aliás, as conclusões sobre o autismo _ e seus termos_ têm sido equivocadas ao longo dos anos desde a sua primeira observação na década de 40 do século passado. Inclusive, elas estão em constante mudança à medida que autistas se colocam em seu lugar de voz.

       Agora, se for descoberto um gene diferente para a manifestação da característica “autismo” e um par de gene em loco diferente para o transtorno de personalidade, sim seria possível que autistas desenvolvam algum transtorno. Porém, ainda se desconhecem essas informações. Quem sabe daqui pra frente? Está tudo tão rápido! 

      Já em minha opinião, de acordo com o que eu conheço da tendência de caráter autista, não seria possível autistas serem bipolar ou borderline, por exemploporque eu já disse acima. O autismo já é uma tendência de personalidade com deficiência (é um modo de ser no mundo, não uma doença nem um transtorno). Faz sentido? Essa personalidade é essencialmente equilibrada (inocente, coração leve, do bem, justo, sincero demais, etc), porém o seu jeito singular acaba deixando as pessoas à sua volta incompreensivas a ponto de os prejudicarem quando estes não se submetem à injustiças, por exemplo. Veja o mapa mental abaixo sobre os termos técnicos para os tipos de personalidade e suas pontuações no autismo segundo a minha opinião, a qual difere de alguns artigos científicos. Se a imagem estiver muito pequena, clique nela que aparecerá em outra página.

borderline e autismo, bipolaridade, tdah e autismo, diagnóstico diferencial

No entanto, o que causa o transtorno social, é a sua deficiência neurobiológica e a deficiência de comunicação entre receptor e orador, além da punição social. Assim, pergunta-se por que há autistas diagnosticados duplamente ou mesmo artigos afirmando a possibilidade? _ ninguém fala no assunto _ mas é um erro de diagnóstico por falta de habilidade do profissional, inclusive originado de mal entendido, ou interesse profissional.

Eu entendo que autistas captam muito o jeito das pessoas (masking) e também aprendem normas sociais, mas as aplica de forma atrapalhada, justamente por não saber o momento certo e a lábia contextual. Assim, essa repetição é 100% aprendizado, não é nem 10% nata. Dessa forma, quem ver de fora sem perguntar o motivo bem detalhado e atento, vai achar que entendeu o comportamento da pessoa em fase de investigação e desanda para outro diagnóstico ou para um duplo. Exemplificando, um autista tem um pai dominante narcisista e absorveu o jeito mulherengo doentio dele (masking), mas tende a não sentir vontade sexual, apenas repete essa “norma social” aprendida de que deve iniciar-se no “amor” logo cedo, em vez de esperar o momento que seu corpo sinalizar a fim de começar de forma saudável para seu cérebro, para o seu bem estar e do outro também. Esse filho não aprendeu isso em casa e as aulas de educação sexual na escola foram muito teóricas para essa cabecinha extremamente concreta.  A consequência é que ele vai aprender tudo na prática e passar por perigos, infelizmente. No entanto, isso não significa que ele seja narcisista ou bipolar. Entende? É preciso ficar bem atento a essa questão, pois há muitos profissionais, autistas e artigos científicos mal feitos que afirmam essa possibilidade. 

Aprendemos que há regras ruins em nosso sistema de aprendizado, através da vivência e prestando atenção nas respostas negativas aos atos, mesmo que muitas vezes sejam atitudes reativas a um estímulo (achar que uma mulher estava dando sinal de passagem amorosa e não era bem isso).  A psicoterapia ajuda muito nesses aspectos também. Ao constatar que estávamos agindo de maneira errada, mudamos a postura para tentar nos adequarmos, inclusive à nossa própria consciência. No entanto, se não tivermos apoio, vamos continuar “metendo os pés contra as mãos” em outras areas do comportamento não percebidas caso tenhamos tido maus exemplos quando criança e adolescente. Cientificamente, seria o consciente (5%) tentando ir contra o inconsciente (95%). A vida social já é confusa, imagina tendo de lidar com esses dois pesos. É muito complicado sermos assertivos socialmente sozinhos, sem uma rede de apoio para nós. Só não somos assertivos pela imaturidade social, mas conseguimos evoluir com ajuda e nos tornamos assertivos, justamente por ampliar nossa compreensão e conseguimos ver vários ângulos ou possibilidades de interpretação cada vez mais. 

Então, autistas mal conduzidos adquirem características indesejadas, mas não são genuinamente deles. A manifestação vai confundir os outros porque tem muitas máscaras envolvidas, algumas mais superficiais e outras mais profundas porque vieram da infância, mas não são parte daquela personalidade real. Ué, mas o diagnóstico de autismo depende, em grande parte, das manifestações na infância, né isso? Sim, mas é preciso diferenciar as primeiras manifestações alteradas pelos responsáveis para que a criança fosse vista como normal. Portanto, não é só o adulto que mascara. Na verdade, vai ficando mais consciente o mascaramento, porém, ele já começa a ser introduzido já na primeira infância. Porém, com um olhar atento e lembranças detalhadas, é possível identificar com o apoio profissional experiente.

Autistas manifestam essas características de temperamento ainda bebê, a qual vai se moldando pelo ambiente, sejam por estímulo de pais, mães, professores e professoras ou outros familiares e pessoas próximas. Assim, vão formando o caráter e depois a personalidade, cujas máscaras escondem a nossa verdadeira personalidade. No entanto, ela não “cristaliza”, pois há um contínuo movimento de aperfeiçoamento normal que acontece ao longo dos anos, inclusive se não houve intervenção suficiente para esclarecer a confusão social na mente do autista sobre si mesmo e a assertividade social. Se esse equilíbrio é perdido por muito tempo, surgem depressão, ansiedade, estresse pós traumático, psicossomatização em geral, menos transtornos de personalidade.

Por fim, é de praxe definir autistas como aqueles que veem o mundo de forma diferente. Isso é um fato. Por isso e pela diversidade de cultura que a humanidade criou, autistas são tão diversos. Autistas não deveriam aceitar serem chamados de transtornados (transtorno do espectro autista), mas de pessoas no espectro autista (PEA), pois autismo é um modo neurodiverso de ser no mundo. A sociedade é quem nos causa transtornos, por ser intolerante à nossa deficiência. Autistas estão em constante evolução e aperfeiçoamento de sua pessoa, basta que receba a(s) intervenções adequadas, para que sua mente seja clareada sobre si, suas emoções, palavras e ações. Tal autoconhecimento só é possível de ser feito com êxito quando a pessoa obtém seu diagnóstico, mas isso já começa a florir quando se autodiagnostica dentro do espectro. Para isso ocorrer, e diminuir o subdiagnóstico, é preciso que o conhecimento sobre o autismo seja seriamente reformulado e em conformidade com a voz de quem está no espectro, pois geralmente, os profissionais e responsáveis desatentos têm uma visão limitada de como é ser autista.

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"Você é uma pessoa boa, Mari". Essa frase eu já escutei algumas vezes de amigas e amigos "irmãos". Eu comecei a entender...