Como
esse desenho acima, as máscaras sociais criadas por nós é uma forma de interagir,
lidar e de se proteger da toxicidade comum vindo do mundo externo. Isso
acontece porque autistas não são assertivos socialmente e acabam “copiando e
colando” as pessoas geralmente próximas e aparentemente bem adaptadas à
sociedade, inicialmente de forma inconsciente e depois de maneira consciente.
Se
profissionais desconhecem o entorno dos autistas, haverá uma alta chance de errarem
no entendimento de pessoas buscando o diagnóstico. uma vez que se eles conhecem
seus familiares a fundo, inclusive desde a adolescência, eles verão o quanto de
influência autistas apresentam em suas respostas verbais e comportamentais.
No
meu caso, eu tenho um exemplo bem interessante. Uma das máscaras marcantes em
minha vida até os dias atuais é a chamada “Márcia”. Recentemente, eu fui grossa
e rude com a minha mãe _ aliás, todos os meus irmãos paternos são rudes com
ela, a que menos fala forte é a irmã loira, mas tem aumentado e pego para si
nossa maneira de chacoalhar minha mãe. Antes de acontecer o último grande bullling, em nível internacional (2018
aos dias atuais), eu era mais educada com a minha mãe e não perdia a paciência
com ela facilmente. Se você quer saber como era a minha relação com a minha mãe,
clique aqui
para ler o texto.
Voltando...
A máscara da minha irmã mais velha, Márcia, é muito forte, uma das responsáveis
por mim na adolescência e na vida adulta inicial. Recentemente, a minha mãe me
perguntou algo óbvio e eu me irritei com ela. Até 2017, eu não me irritaria,
mas ainda estou sob o efeito do estresse pós-traumático, não tão forte quanto
no começo dessa injustiça, pois estou gradualmente me recuperando com a ajuda
profissional e de pessoas amadas. Enfim, eu me percebo com a mesma entonação
e postura moralista dessa irmã. Até a voz fica com um timbre parecidíssimo.
Quem a conhece, diria que é ela e não eu. Eu até disse a mainha que não sou eu quem
briga com ela, mas a “máscara” Márcia. Se eu tentar conscientemente, não sai
tão perfeito quanto no automático.
Embora
haja comportamentos cuja justificativa seja inaceitável, eu sempre procurei uma
explicação para essas atitudes. Dependendo da origem dos motivos, eu busco
compreender e aceitar até que a pessoa mudasse ou até que eu chegue ao meu
limite. Sim! Eu tenho limites para aceitar comportamentos desrespeitosos comigo
e com o outro. Quando já não aguento mais _ isso demora _ ou quando a “dose”
foi tóxica demais, eu me afasto definitivamente, pois eu não posso deixarem me
agredir assim. “Enterro” o passado e sigo em frente, procurando ser uma pessoa
melhor que eu já fui. A minha intenção é fazer diferente e melhor. No começo,
foi difícil mudar, mas a vida me obrigou: “ou você muda, ou será engolida tanto
pelos “lobos” quanto pelas lembranças ruins que insistem em voltar a sua mente”.
Mudar
também é uma técnica que aprendi para higienizar as minhas lembranças. Mudar
significa para mim um sinal de fortaleza, porém ter o cuidado para não se
tornar “um lobo”. Você apenas aprende a lidar com esses “lobos”. Nunca achei
que ser o lado opressor fosse vantajoso ou bonito. Ao contrário, passar-me por
má pessoa para atender a demanda social é angustiante. O opressor sempre será
uma pessoa ruim, no meu entendimento, é aquele sempre se comportará dessa forma
com qualquer vulnerável.
Há
uns 10 anos atrás, quando a minha sobrinha, filha dela, era bebê, eu fui
visitá-la, mas minha irmã não estava. Quem estava era mulher que trabalhava lá na
limpeza que me colocou para interagir com a menina. Teve um momento que ela
saiu de perto, pois não queria mais rabiscar, então, eu a chamei igualzinho a
Márcia, e ela veio de imediato, provavelmente um estímulo positivo da mãe.
Na
adolescência, eu buscava palavras para descrever algo que eu tinha observado ao
conviver com Márcia no apartamento do edifício Santa Mônica. Finalmente, após
alguns meses, eu consegui encontrar palavras. Foi exatamente isso: “eu e ela
somos muito parecidas em personalidade, mas diferentes em ideais”. Com certeza,
eu errei no termo “personalidade”, pois a minha estava se moldando, logo, o
certo seria caráter para mim. Além do mais, com o entendimento que eu tenho
hoje, já na beira dos 40, com 39 anos, o comportamento que eu usei em muitos
casos se espelhavam nela e no meu pai que eram muito dominantes, mas a minha
tendência de criança até hoje é ser uma pessoa muito quieta. Quando eu comecei
a estudar na Bolívia, eu já era muito mais branda tanto por ter convivido com a
irmã loira e ido a templos espiritualistas.
Meu
irmão me disse uma vez, em 2014, “pai é muito tóxico, parece até que
me invade e eu fico tóxico também, aí perco o controle”. Eu concordei. Falando
em meu pai, ele me incentivava a ser igual a ele. É como se ele quisesse que eu
não fosse parecida com minha mãe, ou seja, eu mesma. Lembro dele dizendo que eu
era igual a ele por tomava iniciativa e ser comunicativa. Mentira! Quem
conviveu comigo sabe o quanto eu era “na minha”. No entanto, eu sempre soube da
minha capacidade de aprender, era só me darem oportunidades equitativas.
Márcia
sempre tomou a frente de tudo, e eu não a inibia, eu a deixava resolver tudo.
Assim, fui ficando dependente dela e não me vi estimulada a ser independente
até me formar em veterinária. Ali, as dificuldades já eram enormes e crônicas
demais para uma mudança repentina. O apoio que eu precisava era maior do que a
estratégia de “dificultar” propositalmente minha vida para ver se elas conseguiriam
me desprender desse vínculo executivo (para mim) e financeiro (para elas).
Como
minhas duas irmãs têm status e
dinheiro, meus progenitores, acreditavam que elas deram certo na vida, pois
eles desconsideraram a questão afetiva. Então, inconscientemente, eu também fui
incorporando que elas obtiveram sucesso e que eu poderia copiá-las, até porque
elas me passavam segurança também. Hoje, eu sei que elas são tóxicas para mim,
mesmo que uma delas não queira ser assim. A intenção é boa, mas não lida bem
comigo como eu sou querendo me mudar, assim como o meu pai. Isso me prejudicou
de uma forma tremenda, até para que eu mesma possa ser quem eu sou e agir em
conformidade com o meu jeito meigo que perdura até hoje. Veja a descrição de mim segundo as
pessoas nos meus 2 cadernos de recordações dos anos 90. Assista a eles no meu segundo canal do youtube clicando em caderno de recordação 1 e caderno de recordação 2. É que eu não consegui anexá-los no google drive, na pasta onde estão os 7 volumes do Mundo de Marília. Se você ainda não leu os volumes, clique aqui para baixá-los.
Lembrar-me
disso me emocionou, pois eu tenho dificuldades de “enraizar” e sinto falta dos
poucos momentos que eu senti a minha própria presença.
Isso
não quer dizer que eu não tenha personalidade definida e estável. Embora eu
tenha sido insegura com relação ao meu discernimento social, eu tenho
qualidades e defeitos como qualquer pessoa normal. Autistas são normais e
atípicos, veja a explicação no gráfico hipotético que fiz neste texto. Sendo que alguns dos meus defeitos me causam
prejuízos graves e não me deixam avançar na questão financeira, pois são
inabilidades sociocomunicativas e inflexibilidade.
Algumas
minhas qualidades desde a infância são justiça social, filantropia, ser estável,
cumprir tarefas quando já se tornou um hábito, passar confiança na relação
interpessoal por fidelidade, honestidade,
inteligente, amigável e amável (embora essas 2 questões causem polêmica, mas eu
tento, tenho a intenção desde sempre de ser. Possivelmente, por desconhecer ou
discordar de regras sociais isso seja tão discutido pela forma de expressar ou
de não expressar).
Era
um hábito e um dia, meu pai frisou verbalmente, que eu “gostava de dividir até
um confeito”. Eu estava com 10 anos ou mais, nesse período, quando eu perguntei
às pessoas ali se elas queriam um pedaço da bala refrescante que eu tinha
tirado do bolso: “quer?” Ninguém quis. E eu entendi naquele momento, após o
juízo de meu pai e da resposta negativa das pessoas, que aquilo era tão pequeno
que eu não precisaria dividir senão eu ficaria com quase nada. Mesmo assim,
continuei com um sentimento de querer sempre compartilhar com quem não tinha e
com tristeza de estar em uma situação melhor que aos moradores de rua e de quem
não poderia ter o que eu tinha materialmente me referindo.
Além
disso, eu sempre me recusei a ser melhor que os outros, inclusive na reputação.
Eu infringi regras sociais que eu aprendi e estava com uns 17 anos para fazer juízo
disso. Passei, nessa idade, a deixar de brincar de bonecas com a irmã mais
nova, Livinha, que começou a vir brincar comigo no lugar da irmã mais velha
quando eu tinha 15 anos. Aos 17 anos, comecei a “andar” mais com uma garota também
mais nova que eu e que era inteligente e esperta demais. Minha mãe e meu pai
não gostavam pois ela era “falada” e eu não gostava de que me colocassem em um
pedestal dessa forma, diminuindo os outros. Assim, passei a querer estar na
mesma fase que elas de descobrimento, mas eu estava atrasada nesse sentido,
pois minha paixão foi fixa por 4 anos ou mais, mas nunca senti vontade sexual e
nunca tivemos preliminares, muito menos transamos. Todavia, levei a fama. Não me
defendi e deixei que a imaginação “corresse” solta e que cada um entendesse da
forma que lhes convinha. O que pode confundir é o meu jeito de estar feliz
quando eu consigo um elogio verdadeiro. Não escondo e as pessoas podem
sentir-se mal por ter subido tanto minha energia.
Bem,
então, como meu pai tinha se aproximado de mim no início da minha adolescência,
comecei a “tecer” a máscara João pai. Comecei a falar alto, a encher o prato
feito uma montanha e a comer rápido, por exemplo, fazendo dessas características
um mascaramento notório já que é dominante em relação à minha tendência, mas aparecendo
só em determinadas situações, principalmente quando estávamos conectados. A
conexão (direta e indireta) é essencial para que as máscaras sejam ativadas,
por isso, a diversidade de comportamento e de interpretação dos que conviveram
comigo. É tipo assim: “não sei como me portar, urgente, vou usar essa máscara
para me salvar”.
A
primeira vez que me dei conta disso foi quando eu estava com Dea e as outras
amigas da faculdade no carro de uma delas. Eu estava no último ano e minhas
atividades me deixavam com mais tempo livre, pois eu não tinha mais provas nem
muitas matérias. Estávamos vindo de uma das pracinhas depois de interagirmos.
Dea falou “tá vendo, já mudou de comportamento e apontou pra mim”. Então, eu
fiquei reflexiva, mas não me defendi. Afinal, eu tinha de pensar sobre aquilo,
sobre aquele autoconhecimento. Além do mais, ninguém me solicitou para falar
sobre. Na interação, Michele era muito engraçada, fazia palhaçadas, eu ria
demais e tínhamos todas em comum o tema LGBT+. Assim, eu criei um repertório
com as neologias criadas por ela e as outras meninas. Eu achava engraçado e
repetia tanto na hora da interação como até hoje. Elas me animavam e me tiravam
de um estado extremamente estressante.
Depois
que eu e o grupo nos distanciamos, porque minha segunda ex (chamada por elas de
“a louca”), estava na cola das meninas e eu queria distância pelo mal físico e
psicológico que ela me causou. Inclusive, na audiência judicial, foi determinado
ela manter essa distância de mim sob pena de ir presa se não cumprisse, pois
ela estava me perseguindo e me expondo nos lugares e com as pessoas que eu conhecia
(pegou meu celular e anotou os meus contatos). Seguramente, ela implantou
discórdia no grupinho. Ela tinha esse “mal espírito” de causar confusão onde
estivesse, inclusive com as outras ex ela agia abusivamente também. Sei disso
porque ela tinha um perfil no orkut
com uma descrição mais ou menos assim: “pelo menos eu demonstrei meus
sentimentos” e que estava assim desde a namorada anterior, comigo e com a
depois de mim. Com o tempo, fui deduzindo através das pistas, que ela me traia
com mulheres e homens e a turma me interpretava de várias maneiras, mas só
Abacaxi me compreendeu de verdade. Sempre tem uma pessoa que consegue me ver
além das máscaras.
Se
você quiser saber mais, sobre os diversos perigos e abusos, faça o download dos e-books, gratuitamente, onde
falo com detalhes de outros abusos durante toda a minha vida, desde criança.
Sabe
quando você está em seu estado fundamental e recebe energias quando interage e
começa a “mofar” e se expandir? Só que, a maioria das vezes, é inconsciente.
Quando tentamos de forma consciente, fica uma coisa rasa ou inapropriada
justamente porque não consideramos o contexto. Esse tal de contexto me era um
estranho até a época do curso de acupuntura. Em 2016, a professora Leila falou
sobre “discurso” em sala, faltava apenas 6 meses pra terminar, mas minha irmã
loira dificultou a minha vida e não terminei. Enfim, eu parei a aula e
perguntei o que era isso que ela se referia. Bem depois, quando eu estava me
autodiagnosticando, que entendi e lembrei que esse assunto havia entrado na
minha vida na época do curso Licenciatura Agrícola na UFRPE. As meninas e eu
nos matriculamos pois tínhamos direito às vagas por já termos estudado outra
graduação. Eu comecei, mas não terminei, pois um professor começou a praticar bulling comigo. Ele se enfezou comigo,
após eu ter uma atitude com um colega que ele considerou “é chato e difícil, eu
sei”. Eu não havia percebido que fui inapropriada e ele começou a “pegar no meu
pé” nas próximas aulas. O denunciei e me desestimulei a ir para a faculdade.
Logo após a denúncia, eu avisei que não frequentaria mais essa graduação de 2
anos apenas.
Infelizmente,
fui muito prejudicada ao longo da minha vida, inclusive as coisas se complicaram
quando me tornei adulta, por ser mais cobrada e entenderem que eu era “dona de
mim”. Se já é complicado com o laudo, imagina com o subdiagnóstico! As pessoas com
pouca conscienciosidade
não nos respeitam, principalmente se somos mulheres e demonstramos fragilidade
aparente.
Portanto,
o mascaramento é um “escape” utilizado de forma subconsciente no começo da
socialização da criança e vai se tornando um mecanismo consciente, inclusive
quando há autoconhecimento. É uma forma da mente autista se blindar e se
defender, principalmente, mas também de interagir em geral. Porque, muitas
vezes, não sabemos o que falar, como falar, onde falar, onde calar, ao longo da
nossa vida. Então, generalizamos e utilizamos as máscaras em situações onde o
contexto pode ser diferente e não “cair bem”. Entretanto, tem situações, que elas
são bem aceitas e a interação ocorre com êxito, não deixando os interlocutores perceberem
nossa dificuldade social.